ADAM
Rafael me deixou próximo a minha casa, me despedi e caminhei alguns metros ate chegar lá.
Minha casa – ficava ao lado do X-Mart uma loja de conveniência da cidade – era fácil de identificá-la pelo jardim de rosas brancas, as arvores frutíferas que fiavam em frente à propriedade e pela pequena trilha de pedras acinzentadas que levava ate a varanda, lá havia um velho balanço de madeira que fizera parte da minha infância e que me fazia companhia em noites de céu estrelado.
Caminhei silenciosamente ate a porta e abri, de lá se podia ver a escada que dava acesso ao andar superior onde estavam os quartos e os banheiros, mas da costuma visão da entrada da casa algo havia mudado.
Subi para o meu quarto, tomei um banho e vesti roupas leves já que o aquecedor da casa estava a todo vapor. Então me direcionei para a escada e comecei a descê-la quando vi Sam – meu pai – que me esperava sentado em um dos degraus da escada com uma corda na sua mão direita que ele usava para amarrar velhos troncos de arvores e levá-los para os fundos da casa para se fazer lenha.
Eu fui para o corredor que dava acesso a sala e ele seguiu atrás de mim. Eu parei e me virei para perguntar se havia algum problema então ele me olhou nos olhos que estavam vermelhos não sei se por raiva ou por outro motivo, sua voz rouca e grave ecoou em um grito pela casa.
– Você fica com homens?
Fiquei estático. A pergunta havia me pegado desprevenido. Porque ele estava fazendo aquela pergunta? Logo ela que eu tanto evito que eu mais temo responder... Que eu não desejo contar a ele.
– Você fica com homens?
Ele repetiu a pergunta com urgência, segurou meu braço com força e perguntou uma terceira vez com as mesmas palavras esperava por um não de minha parte, mas ele não ouviria isso de mim... Eu poderia não querer que ele soubesse, mas jamais mentiria para ele ou minha amada mãe.
Ele me jogou no chão.
Ouve um ruído.
Um dos jarros que há em uma pequena mesa ao lado do sofá cai e quebra-se ao tocar o chão.
– Me responda!
Fiquei em silencio.
Ele me puxou para o lado, me colocando de pé.
A corda tocou o meu corpo.
Um novo baque.
Ardor.
Algo quente escorria pelo meu braço.
Dor.
Meu pai havia me jogado nos estilhaços de vidro que havia no chão da sala, eu havia me cortado e sangue escorria do meu braço, minha camisa foi cortada e das minhas costas o sangue quente escorria ate encontrar a barra do calção.
– Me responda!
Não respondi e olhando para ele e o vi aplicar sua força na corda. Mais uma vez a corda tocou o meu corpo e ele sempre fazia a mesma pergunta, mas ele já sabia a minha resposta.
Meu silencio era a resposta.
E ele odiava isso e não aceitava que eu seu único filho fosse... Ele odiava as pessoas que se relacionam com outras do mesmo sexo, passei minha vida o ouvindo falar mal dessas pessoas e seria a gota d’água que seu filho fosse como as pessoas que ele mais odiava.
Não houve ruído de choro ou de dor.
Eu já contara trintas lapadas com a corda ensangüentada em meu corpo... Tudo começou a escurecer de repente... Então eu paguei.
Quando voltei a mim, ele ainda estava me batendo, agora com menos força ele estava cansado, eu podia ver o choro da minha mãe que vinha de algum lugar da casa e implorava para que ele acabasse com aquilo.
Arrastei-me devagar ate a porta, me levantei em meio o ardor das minhas costas e do meu corpo que estava vermelho e quase roxo. Abri a porta e sai. Começava a nevar e a partir daí fiquei perdido...
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