A neve caia devagar pelas ruas da cidade.
O inverno finalmente havia chegado completamente, o sol não podia, mas derreter a pouca neve que caiu há alguns dias atrás. Crianças corriam devidamente aquecidas por suas roupas em meio a guerras de neve, o lago logo estaria congelado e faria a felicidade de muitas pessoas. Os aquecedores do colégio estavam ligados e eu tentava me concentrar no dever de matemática, era sexta feira e era difícil não pensar no final de semana.
O passeio a gruta havia sido há uma semana e de lá pra cá muita coisa havia mudado em minha rotina diária, os treinos e o campeonato interno haviam sido cancelados e eu teria alguns dias para relaxar, eu passava boa parte do meu tempo com Adam, íamos à biblioteca, há um show de rock – que eu nunca pensei em ir – às vezes ao cinema quando o filme parecia interessante, riamos á toa ou por ver algum aluno passar vergonha me pleno refeitório.
Éramos como unha e carne.
Eu não havia comentado com ninguém sobre o que havia acontecido na aula que houve na reserva, nem mesmo com o próprio Adam. Eu estava vendo o mundo de um ângulo diferente e de que eu nunca havia imaginado que veria.
Era hora do almoço e boa parte dos alunos estava estudando e comendo ao mesmo tempo enquanto os nerdes conversavam sobre esquisitices. Eu estava sentado em uma mesa distante da maioria e a minha mente veio à memória do que havia acontecido na reserva da cidade.
– Pensando em que? – perguntou-me Adam.
Ri brevemente.
– Em nada de mais, estou com problemas em física e sei que você é ótimo nessa matéria poderia me dar uma força?
Ele riu.
– Você sabe que não sou muito melhor do que você. – ele me informou.
– É eu sei na falta de um especialista você quebra o galho.
Começamos a rir.
– Eu só quero tirar um oito e você mantém média de oito e meio que eu sei. – conclui.
– Esta bem, eu te ajudo.
Não demorou muito e o horário de almoço havia acabado. Cada um fazia companhia ao outro no corredor que levava para as salas, dizíamos um ate logo e nos dirigíamos par nossas salas.
Algumas coisas mudaram em mim. Eu não sentia mais o enorme vazio em meu peito, eu sempre ficava em cãs após as aulas e dificilmente saia Lisa me forçava a sair e eu acabava cedendo a ela, mas quando se tratava do Adam eu gostava da idéia.
As aulas da tarde se passaram rapidamente e isso era normal para mim, as horas não pareciam longas como eram antigamente. O ultimo sinal soara. Eu descia as escadas com os fones no ouvido enquanto os meus colegas de classe comemoravam o final de semana que finalmente havia chegado. Como sempre éramos a ultima turma sair do colégio.
Adam sempre me esperava no estacionamento, eu dava um carona pra ele já que andar de ônibus nessa época do ano não era uma boa idéia e como eu sabia que andar de moto era uma furada eu estava com meu carro – um Logan prata – e deixava ele onde ele queria. Quando finalmente cheguei ao estacionamento só havia o meu carro foi então que percebi que João Paulo discutia com Adam aos berros, tirei os fones de ouvido e me aproximei rapidamente.
– O que você quer que eu pense? Eu não gosto que ande com ele.
– Não me enche JP estou cansado disso.
– Eu ouvi direito?
– Ouviu sim.
Adam "foi jogado ao chão"¹, por impulso soquei ele e levei uma de direita e fui parar no chão quando me levantei e estava pronto pra esmurrá-lo Adam entrou no meio de nos dois e gritou:
– Parem os dois!
Eu olhei para ele e recuei, João Paulo parecia mais furioso do que já estava ele pegou Adam pela camisa e o jogou longe. Essa foi à gota d’água pra mim. No momento em que ele se virou comecei a socá-lo, eu estava com muita raiva por ele ter feito aquilo com ele.
– Rafael... Pare por favor... – ele disse.
Aos poucos a raiva foi se esvaindo e eu o soltei. Seu rosto estava ensangüentado e eu havia quebrado o nariz dele. Sentei-me ali mesmo e suspirei enquanto olhava para ele, me levantei devagar – eu havia gasto minha energia com a surra – olhei para ele e disse:
– Nunca mais toque um dedo nele, por que na próxima eu vou deixar pior do que isso.
Fui ate onde Adam estava.
– Esta tudo bem?
– Esta. Não foi nada.
– Então vamos, vou te levar para casa.
Coloquei meu braço sobre seu ombro e caminhamos ate meu carro.
– Acabou João Paulo.
Foi a ultima coisa que ele disse naquele dia.
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