Aos poucos a lembrança se desfez e me vi novamente na minha cama deitado, admirando o teto de forma vaga, peguei o travesseiro e o coloquei debaixo da minha cabeça e olhei pela janela enquanto Lenna se levantava da cama e saía do quarto em direção à cozinha e mais uma vez adentrei em minhas lembranças.
***
A noite mal estava começando para muitos naquela noite de 11 de junho. Meus olhos estavam incomodados, mas eu estava feliz por mais um dia ter se passado. Estava a caminho de casa quando meu celular tocou. Olhei para a tela vagamente e lá estava o nome dele. Peguei o celular, atendi a ligação e pus no viva-voz.
— Oi.
— Oi, amor — falou ele.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntei.
— Não, só estou com a cabeça cheia — respondeu ele.
— Quer falar sobre isso?
— Eu não sei, acho melhor não.
— Amor, antes de tudo somos amigos. Você pode falar o que está acontecendo.
Por alguma razão, algo se revirava em meu interior, eu estava nervoso e temeroso ao mesmo tempo. Algo estava por vir, mas ao mesmo tempo as lembranças de tudo iam e vinham a minha mente e uma delas me impregnou naquele exato momento me fazendo entrar em um lugar antes feliz, agora sombrio.
"Fazia quantos dias desde aquele fatídico dia? Quantos dias eu me peguei chorando desolado e decepcionado. Quantas vezes eu me pegaria sofrendo desse jeito?"
Esses pensamentos invadiam a minha mente enquanto eu ia ao encontro dele. Deixei o carro em casa, queria ter o maior tempo possível antes de vê-lo. Fui para o ponto de ônibus e fiquei esperando de forma despreocupada, mesmo que a minha barriga formigasse de uma maneira estranha. E da mesma forma que cheguei ao ponto, entrei no ônibus que não demorou a passar. O caminho seria relativamente longo, mas isso não me importava.
O sol no final da tarde se direcionava para o horizonte em seu tom alaranjado pintando o céu azul. As lembranças dos dias felizes me incomodavam e eu tentava esconder o choro. Por que aquilo tinha que doer tanto? Eu já sabia a resposta dessa maldita pergunta, porque mesmo ele tendo todos os defeitos que se sobrepõem as suas qualidades eu ainda...
Eu o amo.
E é por isso que isso dói tanto. Porque entreguei meu coração a ele e ele simplesmente o jogou no chão quebrando em mil pedaços e agora estou eu juntando os cacos.
Quando saí do meu devaneio me vi onde deveria descer. Ele me esperava do outro lado no carro. Atravessei a avenida e entrei no Gol prata dele, ele me olhou seriamente. Meus olhos estavam vazios e indiferentes, prendendo toda a raiva que havia dento de mim. Ele deu a partida e saímos dali, em seguida ele entrou numa rua vazia e parou o carro.
— Então vai ficar assim?
— E como esperava que eu ficasse? — Eu o olhei nos olhos, estava a ponto de chorar.
— Eu já te pedi desculpas.
— E eu já te perdoei. — desviei o olhar. — Só queria saber o motivo. Eu te fiz alguma coisa?
— Só aconteceu. Ele tinha brigado com o namorado e aconteceu, a gente acabou ficando.
A imagem em minha mente se formava e eu odiava estar na presença dele, eu sentia nojo.
— Por que você quis?! — gritei.
— Fala baixo.
— Falo baixo se eu quiser, seu merda. — bravejei.
— Dá pra se acalmar? — Eu me foquei no vazio para me acalmar. — Eu prometo que não vou mais fazer isso.
— Você sabe que as coisas não serão mais as mesmas. Eu não confio mais em você. E se quiser que eu confie em você, vai ter que conquistar isso aos poucos.
— Eu sei disso.
O silêncio se instaurou no carro, a escuridão já tomava conta do ambiente, então ele falou quase que em um sussurro.
— Quer ir à casa da Lanna?
— Sim. — Eu me limitei a dizer.
Ele deu partida no carro e saímos da rua. O caminho todo eu fiquei em silêncio, quando estávamos perto da casa dela, ele me perguntou:
— Vai ficar assim, quando chegarmos lá?
— Não se preocupe com isso — falei sem olhar para o rosto dele.
Ele estacionou na frente da casa, descemos e ao tocar a campainha, alguns instantes depois, Lanna abriu a porta e nesse instante eu fingia que estava tudo bem, passei a noite rindo e me divertindo, agindo "normalmente" com ele. Tudo uma farsa para manter as aparências.
A noite se encerrou e nos despedimos. Ela nos acompanhou até a porta e esperou que dobrássemos a esquina acenando da porta. Ao passarmos por ela, minha face vazia retornava e o silêncio se instaurou novamente no carro, algum tempo depois ele falou:
— Você atuou muito bem. Enganou-me muito bem — disse sarcasticamente.
— Aprendi com você — murmurei. — Eu disse que não precisava se preocupar, Lucas.
— Até quando vai ficar estranho? Eu sei que errei, mas eu tô me esforçando.
Isso me fez pensar. O silêncio continuou até chegarmos a minha casa. Desci do carro e o chamei, ele desceu e me beijou. Foi o beijo mais estranho que eu dei, pois a sensação de nojo me impregnava, mas eu não podia deixar que ele percebesse isso, porque no final das contas eu o tinha perdoado e como todas as vezes acabamos indo para a cama.
O problema é que eu não sabia se queria continuar com ele.
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