segunda-feira, 26 de março de 2018

7 - Entre Pai e Filho

Lenna olhou-me pensativa.
— Eu me lembro disso.
— Eu queria esquecer tudo isso — resmunguei enquanto fechava meus olhos.
— E depois? — perguntou ela.
— Essa é a parte cômica de toda essa história.
E mais uma vez minha mente adentrava no lado mais obscuro de minha mente, onde eu escondia todas as lembranças daquela época. Trancadas, agora libertas.
***
O céu estava em seu tom azul-marinho, cheio de pontinhos brilhantes, não havia nuvens e nem mesmo sinal da lua nesta noite. Eu estava deitado no ombro de Lucas que dirigia o carro a caminho da minha casa.
A rua estava bem iluminada quando entramos nela. O carro parou em frente a minha casa, ele me deu um beijo e descemos do carro. Então o portão da minha casa se abriu lentamente e vi minha mãe olhar para nós dois. Dei um breve sorriso.
— Mãe, esse é o Lucas.
Ele riu.
— Oi. Tudo bom com a senhora?
— Tudo. — Ela respondeu em meio a um sorriso.
Então ela voltou para dentro de casa nos deixando a sós, conversamos por algum tempo e logo depois ele se foi. Quando entrei, todos já estavam na cama, então fui para minha. Analisei o que aconteceu na porta da minha casa e o fato de ela não ter falado nada pro meu pai desde que ela descobriu. Isso me incomodava de certo modo, não saber o que se passava na mente dela e se ela falaria ou se ignoraria esse fato, e em meios a esses pensamentos eu adormeci.
A luz do sol atravessava a janela do meu quarto, que me fazia automaticamente colocar a mão nos olhos e me forçar a lembrar de comprar persianas, uma tarefa inútil, já que eu não achava tão necessário e empurrava com a barriga há algum tempo, então me virei para o outro lado e coloquei o cobertor no rosto e estava me preparando para voltar a dormir quando ouvi a voz do meu pai me chamar.
— Ale.
— Senhor — respondi automaticamente.
Juntei forças e me sentei na cama, cocei os meus olhos e procurei por minhas chinelas no chão, coloquei a primeira bermuda e camisa que encontrei na minha frente e segui para a sala, onde ele estava.
Meu pai tem um metro e setenta o que me faz ser mais alto que ele, ele é forte e tem a pele alva, com barba por fazer e cabelos curtos, ele via televisão sentado em uma cadeira de espaguete ao lado da janela da sala.
— Sente-se aqui — falou ele sem me olhar. Ele sempre soube quando eu chegava a um cômodo sem falar uma palavra sequer. Então caminhei até o sofá e me sentei. — Ale quer me falar alguma coisa?
Eu o olhei confuso.
— Não. Por que eu teria, pai?
Ele assentiu e olhou para a televisão novamente e depois de um breve silêncio ele perguntou novamente.
— Está namorando, Ale?
Minha barriga começou a me incomodar. Eu estava processando a informação, ele estava indo direto ao ponto que ele queria, ele me deu a opção de falar por conta própria, mas não o fiz. Ele sempre fazia isso. Minha barriga parecia que tinha borboletas e que estavam descontroladas, meu corpo começou a ficar gelado. Eu definitivamente estava nervoso.
— S... Sim — saiu quase como um sussurro.
— Com quem?
Meu coração se acelerou. "O máximo que poderia acontecer era eu levar uma surra e o mínimo era ele me fazer terminar ou os dois...", pensei comigo mesmo. Respirei fundo e tomei coragem.
— Com um cara.
Engoli em seco logo depois de ter proferido tais palavras, meu pai continuava em silêncio, ainda olhava para a televisão quando se virou para mim de forma tranquila.
— E por que não falou comigo e com sua mãe? — De repente meus músculos relaxaram e senti minha pressão se normalizar, respirei aliviado enquanto ele esperava por uma resposta, mas eu não tinha como responder, não agora, não havia uma reação ou forma pronta de dizer os meus motivos. — Olha, filho, você deveria ter falado conosco. Não vejo problema algum, não tenho preconceito, até porque eu tenho um primo que é homossexual, mas quero que tenha cuidado, você sabe como o mudo é lá fora, as coisas são complicadas, então não quero ter meu filho exposto. Evite ficar namorando no meio da rua e não tem problema em trazer seu namorado aqui em casa, namorarem aqui. E... — Quando pensei em me levantar. — Na hora de fazer sexo, use camisinha, você sabe que não pode deixar de se cuidar...
A voz do meu pai soou como um sussurro ao fundo da minha mente quando ele tocou na parte sexual. "Nós já não tínhamos passado dessa fase?". Pelo visto não. Mas não tinha como não esboçar um sorriso pela minha felicidade naquele momento.

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