terça-feira, 20 de março de 2018

1 - Em pedaços

A faculdade havia começado e meu namorado — Lucas — havia feito amizades, eu sabia que era um mundo novo, pessoas novas e isso me preocupava, mas por algum motivo decidi que não deveria, mesmo que minha mente gritasse outra coisa, não estudávamos na mesma faculdade, mas eu tinha completa confiança nele.
Era à noite e eu estava indo para casa de ônibus, já que meu carro estava na oficina e não faltava muito para eu descer quando ele me ligou.
— Onde você tá?
— Indo pra casa por quê?
— Ah... Queria que você viesse para cá, para a gente ir numa festa.
— Ô amor, o problema é que eu não posso ir até aí, tô sem o carro. Você não pode vir aqui me pegar?
— Não posso, tô com o carro da minha tia, e ele tá com a documentação atrasada, e no meio do caminho pode ter blitz e se eu for pego já era.
Eu estava meio chateado com aquilo tudo, ele nunca havia feito isso antes, mas não via nada de mais em ele ir a tal festa.
— E com quem você vai? — perguntei.
— Com as meninas.
— Tudo bem então, só tenha cuidado está bem?
— Sempre tenho, amor.
— Então tenha uma boa festa.
— E você durma bem.
Ambos desligamos o celular, ao descer do ônibus fui para casa, tomei um banho quente, jantei e fui para a cama, estava cansado, tinha sido um longo dia e em algum momento eu adormeci.
A luz do sol não me acordou nesta manhã, o celular que tocava ao meu lado me fez pensar em jogá-lo no chão, para que ele não me incomodasse mais, então me virei preguiçosamente até ele e o peguei abrindo devagar os meus olhos e a claridade da tela me incomodou, focalizei no nome que aparecia no celular: Lucas.
— Bom dia — Eu disse sorrindo enquanto coçava meus olhos.
— Bom dia, amor.
— Como foi a festa?
— Foi muito boa.
— Fico feliz que tenha se divertido, amor. — Eu disse por fim.
— Preciso te contar uma coisa. — Ele disse.
Por alguma razão meu coração se apertou, minha barriga começou a agir estranhamente, minha boca ficou seca e as palavras que eu queria dizer não queriam sair da minha boca. Pensei rapidamente e tentei me acalmar.
— O quê? — sussurrei.
Minha voz estava falha e perdida, meu corpo começou a gelar, minhas mãos estavam trêmulas.
— Eu fiz aquilo — disse ele.
— Fez o quê?
Lá no fundo eu já sabia.
— Aquilo.
— Fala logo e não me enrola.
LUCAS
Todos os meus amigos da faculdade estavam se divertindo, tomávamos uísque. Guto estava triste, porque havia brigado com seu namorado. Guto é alto, tem um metro e oitenta, forte, mas seu corpo era bem definido, era lindo, já havia pedido para ficar comigo uma vez, mas eu disse que já namorava. Só que eu tinha uma queda por ele no final das contas.
Ele morava a uma quadra de mim, então ele foi comigo no carro. Era tarde, quando parei o carro. Ele se virou para mim me beijando e eu retribuí. Era gostoso sentir sua boca na minha, era macia, as mãos dele passeavam pelo meu corpo me acariciando. Minhas mãos seguraram seu rosto e o acariciava, eu estava entregue àquele momento. Minhas mãos desceram pelos seus braços fortes enquanto as dele passeavam pelas minhas coxas apertando-as.
Era isso que eu me lembrava enquanto Alex esperava minha resposta.
— Eu fiquei com o Guto ontem.
Então ele desligou o celular.
ALEX
Meus dedos passaram automaticamente no botão de desligar. Meus braços perderam a força e caíram na cama, imóveis, minha face ficou inerte. O tempo havia parado enquanto devagar meu peito se apertava e se prendia a uma dor que eu não conhecia. Soluços vinham e iam ao mesmo tempo que um rastro de água marcava meu rosto. Minha cabeça começava a ficar pesada, eu estava afundando em uma dor que eu não esperava ter, minha mente tentava processar a informação, buscava inutilmente tirar a frase da minha cabeça, mas ela gritava varias vezes seguidas.
O celular tocou novamente.
Não mexi um músculo para atendê-lo ou ver de quem se tratava, eu só queria ficar sozinho. As lágrimas teimavam em aumentar cada vez mais e minha mente tentava visualizar a cena dele me traindo com outro. Isso estava me corroendo por dentro, então em uma tentativa desesperada uni forças e me levantei.
"Por que eu tenho que passar por isso? Por que eu? Não posso ser feliz? Tudo não passou de uma mentira? Eu não quero que isso me afete, mas...", minha mente tentava organizar as informações.
Fui para o banheiro, tirei a roupa e a joguei em um canto não reparando onde eu havia deixado. Liguei o chuveiro e deixei que a água lavasse meu corpo e fiquei sentado ali, fitando o vazio enquanto as lágrimas desciam pelo meu rosto.
"Há quanto tempo eu estava ali?", finalmente eu me perguntava, meus dedos estavam enrugados e no chão havia uma enorme poça de água. Olhei vagamente para tudo e me levantei devagar, lavei meu corpo e observei a água descer pelo ralo. Enxuguei-me e voltei para o quarto.
O telefone tocou mais uma vez, ignorei novamente.
Vesti-me e me deitei novamente na cama, peguei o celular e olhei para o visor. Havia vinte e duas chamadas dele. Suspirei e respirei, fechei os meus olhos enquanto minha mente gritava a frase, cada vez mais alto, e mais alto. Voltei a chorar e em meio às lágrimas, a escuridão domou minha visão.
— Ale — Minha mãe me chamava. — Tá tudo bem, filho?
Eu me remexi na cama e sussurrei:
— Está.
— Você comeu hoje?
— Tô sem fome.
— Brigou com o Lucas?
Engoli em seco e respirei fundo, porque meus olhos começaram a lacrimejar novamente.
— Não.
Ela desistiu e saiu do quarto, eu me virei na cama e enxuguei as minhas lágrimas, então mais uma vez o celular tocou. Olhei para o visor já sabendo de quem se tratava, então finalmente atendi.
— Por que desligou o telefone na minha cara?
— O que esperava que eu fizesse? Que eu falasse que estava tudo bem?
— Você nem me deixou explicar.
— Explicar o quê? Pra mim está tudo muito claro.
— Ale, não é assim. Não foi algo planejado. Aconteceu.
— E quantas vezes isso pode acontecer? Já aconteceu antes e eu não estou sabendo?
— Não. Claro que não... Se eu fosse outro não estaria te contando. — Silêncio. — Me perdoa amor, por favor.
— Eu não sei.
— Me perdoa, sei que eu errei, não vou fazer mais isso. Eu prometo. Me perdoa, amor...
Respirei fundo, minha mente processou a informação de forma rápida. Eu não tolero traições, mas meu amor por ele falou mais alto, eu não confiaria nele como antes, nada seria como antes. "Eu iria passar por cima do meu orgulho por ele?". Mas tenho que levar em consideração que não estou preparado para deixá-lo ainda, eu o amo o suficiente para perdoá-lo, mas não para esquecer.
— Eu te perdoo. Apenas porque eu te amo e minha confiança você vai ter que reconquistar. E se for fazer de novo, me avise, porque aí não precisa estar mais comigo.
— Obrigado, amor, eu prometo que não vou mais fazer isso.

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